segunda-feira, 19 de julho de 2010

Conto 01 - Parte 05


Ao fundo, num dos cantos do bar, um homem tocava alaúde de modo desapercebido.
Leonardo apenas ouvia enquanto Maximillian e Frei Johann conversavam. Havia conseguido dobrá-los à sua vontade e agora que estava dentro daquela antiga fraternidade, teria que conquistar a confiança de todos para permanecer no grupo e, dessa forma, adentrar os domínios do Vaticano.
Calado, ouviu Maximillian e Johann conversarem sobre os velhos tempos. Dunan contava ao Frei sobre os trabalhos feitos por sua mãe e ele, antes de se separarem, há cinco anos.
- Por muito tempo minha mãe e eu fizemos todos os trabalhos juntos. Conseguimos alguns trocados, nada muito ostensivo, mas o suficiente para podermos continuar.
- Trabalhos? - disse o Frei.
- O senhor me entendeu, Frei - disse Maximillian, com um sorriso no canto da boca. Tomou mais um gole de vinho e olhou para as mãos tortas e assimétricas de Leonardo - O que aconteceu com seus dedos?
Leonardo observou as próprias mãos e as estendeu no ar, para que todos vissem perfeitamente seus dedos quebrados e mal colados, todos cheios de calos.
- Ora, "signori" - disse Leonardo, o forte sotaque italiano enchendo espelunca com sua voz grave, não condizendo com seu corpo pequeno - Vocês já deveriam saber que em nosso meio, com esse "nostro stile di vita", nada é garantido. Especialmente quando os "bastardi" de "nostro" inimigos nos capturam no meio de batalha e você não tem nenhum "amico" para pagar pelo resgate.
- Você foi pego? - disse Frei Johann, após observar o rapaz à sua frente demoradamente - Pensei que você tivesse dito que nunca havia sido pego.
- Eu fui. Várias vezes - disse Leonardo, então pegou um terceiro copo que Dunan havia colocado na mesa e se serviu com um pouco de vinho que ainda havia na garrafa - "Posso farne a meno"?
Dunan e Frei Johann se entreolharam. O homem era esquisito, eles tinham que concordar, talvez fosse digno de confiança, eles não sabiam, mas ainda assim era estranho. Maximillian pensou que talvez os anos na sarjeta tivessem feito sua cabeça fritar. Decidiram que aquele era um bom momento de conhecerem o substituto de Giuseppe, enquanto esperavam pela chegada de Minerva e dos irmãos Domenick e Willian ali no bar Il Angolo.
- Como foi que você escapou? - disse Dunan, curioso, se debruçando sobre a mesa.
- Não escapei - disse Leonardo, após tomar um gole do vinho, saboreando-o como se fosse a primeira vez em anos que fazia aquilo - Fui solto, "signori". Entreguei a eles parte da informação que pediam e "fatto" o resto.
- "Fatto"? - disse Dunan, que entendia mal o italiano.
- Inventei, "signori". Inventei - Leonardo bebeu mais um gole do vinho e ergueu novamente uma das mãos - Então eles me soltaram satisfeitos. Não antes de me quebrarem todos os dedos das mãos, certamente. Os "figli di una puttana"!
Frei Johann fez cara feia diante do palavrão. Leonardo não se importou ou parecia não se importar com ele, bebeu o resto do vinho que estava no copo e se debruçou sobre a mesa, abaixando a voz.
- "Signori" - disse, olhou por cima dos ombros, vigiando o bar ao seu redor - se querem mesmo roubar o Vaticano, então terão que pedir ajuda a um profissional.
- Pensei que nós já fôssemos os profissionais - disse Dunan, cruzando os braços e dando uma gargalhada.
- É sério, "il mio amico troppo ignorante" - disse ele, fazendo um gesto para que Dunan abaixasse a voz. Frei Johann gargalhou alto ao ouvir a última frase, cruzou os braços também e ficou observando ao redor - Escutem com atenção. Todos nós sabemos que entrar no Vaticano não é tarefa simples, ninguém faz isso sem um bom plano e sem um conhecimento "precedente" do lugar, especialmente se esse lugar for o Vaticano. Estou pensando em chamar mais um homem para nos ajudar.
Eles ficaram em silêncio, ponderando sobre a sugestão de Leonardo. Para Dunan, que ainda desconfiava bastante dele, essa ideia só servia para colocar mais um homem conhecido de Leonardo para no final facilitar alguma armação dele. Contudo, Johann estava decidido a ouvir o que o ladrão tinha em mente, ainda que a título de curiosidade.
- Isso é impossível, Leonardo - disse Dunan, após algum tempo calado, se encostando novamente na cadeira - Já tem muita gente envolvida e não quero comprometer mais ninguém.
- Espera um pouco, Max - disse o Frei, havia uma expressão em seu rosto que era um misto de curiosidade e seriedade - Quero ouvir o que ele tem em mente. Você provavelmente deve ter um nome.
Leonardo sorriu por um momento, alegre por poder dar uma sugestão relevante que seria ouvida pelo grupo.
- Estive pensando em Lanferelle.
O som da palavra atingiu Frei Johann e Maximillian Dunan com uma onda de decepção. Leonardo fizera tanto mistério para dar um nome que aparecia apenas em histórias. O sorriso que antes estivera no rosto de Johann desapareceu instantaneamente.
- Lanferelle é uma lenda, um mito, uma história que contam para assustar os grandes mercadores - disse Johann, havia um tom de raiva na voz dele.
- Ouvi dizer que ele morreu - disse Dunan, desconsiderando os comentários raivosos do Frei.
- Não morreu.
- Claro que não - disse o Frei, que encostou-se na cadeira e coçou a testa - Ninguém pode matar aquilo que nunca existiu.
- Mas Lanferelle é "una leggenda vivente", padre - disse Leonardo - Você só acredita que ele não existe porque ele quer que você acredite nisso. Ele é o único que pode nos dar certeza de entrar no Vaticano. Confie em mim, eu já estive com ele.
Frei Johann apoiou sobre a mesa e apontou o dedo para o rosto de Leonardo.
- Isso - disse ele, bem devagar - É mentira! E não sou padre. E essa - olhou para Dunan - É uma besteira que supera a sua de alguns dias atrás.
Leonardo abriu a boca para falar, mas foi interrompido quando Minerva adentrava a porta da Il Angolo, tocando o sino pendurado ao lado dela.
Ao fundo, num dos cantos do bar, um homem tocava alaúde de modo desapercebido.

Addendum: Elba, como você é o próximo na lista, fica a seu critério terminar a história e começar uma nova ou tocar essa em frente pra ver até onde ela vai.

3 comentários:

  1. Dei a maior sorte! Achei que teria que refazer tudo outra vez, mas descobri que tinha um arquivo salvo aqui.

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  2. Acho que já tá na hora de dar continuidade nisso aqui, não?

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