terça-feira, 12 de outubro de 2010

Conto 01 - Parte 06

Eu não preciso lhe dizer que naquele dia houve confusão e uma discussão infernal sobre o que deveríamos e o que não deveríamos fazer. O maluco italiano queria chamar Lanferelle. Minerva e Frei Johann se reencontraram e você sabe bem o que acontece com a conversa de um grupo quando duas pessoas que não se viam há muito se reencontram. Pois bem, Domenic e Willian, não me lembro bem do que eles fizeram naquele dia. Eram extrovertidos em demasia para se concentrarem no momento de traçar um plano, mas não importa, nem a você e nem a mim.

O bar naquela esquina italiana, a Il Angolo, ficou suficientemente vazia naquele resto de dia. E também à noite. Isso deu alguma privacidade para que ele arquitetassem o plano. E isso significava uma conversa que envolvia apenas Minerva, Frei Johann, Leonardo e Maximillian Dunan, por que os outros dois estavam omissos na história. Não por beberem demais, já expliquei, não me lembro o que houve com eles. Max Dunan tinha o conhecimento da planta do Vaticano. Era incrível, e eu realmente nunca fiquei sabendo como ele decorou cada buraco que havia naquele lugar. Era como se passasse a vida a estudar a arquitetura do lugar, tentando decorar cada esquina, cada parede e cada corredor que havia lá. Minerva e o frei arquitetavam a entrada e a fuga pelos caminhos que achavam mais seguros e davam ordens ao restante.

Leonardo era um caso a parte. Passou aquela tarde e noite tentando convence-los de incluir Lanferelle nos planos deles. É claro que causou um enorme descontentamento da parte dos outros pelas seis semanas seguintes que levaram para arquitetar o plano e pensar em um modo de executá-lo.

O quê? Se eu já me encontrei com Lanferelle? Talvez eu possa lhe contar uma história dele algum dia, mas antes preciso terminar essa, não? Mas antes me permita lhe dizer uma coisa sobre Lanferelle: tudo o que dizem sobre ele é real, mas não acredite em nada.

Enfim. As seis semanas seguintes foram atribuladas. Eles passaram todos os dias caminhando pela Praça de São Pedro e arredores, colhendo informações sobre a Guarda Suíça, horários de entrada e troca de turnos. Quem fazia o quê e a que horas, quem convivia com quem e em qual lugar. Foi tudo minuciosamente estudado, avaliado, anotado, registrado. Tudo! Não poderia haver erros. Desculpe o quê? Ah, sim! Estavam atrás do Vellum. Como? O Vellum é o pergaminho com a história que não foi contada aos homens, ora mais. O que poderia ser? É claro que não vou lhe contar qual a história que está nele, iria estragar o final da minha história.

Não! Por favor, não se atenha a clichês e não pense pequeno. A Apostólica Romana não guarda esta história  da humanidade simplesmente porque contá-las aos homens resultaria no fim da Igreja Católica. Contá-la aos homens resultaria na ruína de todas as religiões e no começo de uma era na humanidade. Naquele pergaminho está tudo aquilo que os homens não querem ninguém saiba. Lá está a Verdade Incontestável, o Começo de Tudo, a Fundação, a Religião Primeira ou qualquer que seja a alcunha poética que você queira chamar.

Estou divagando? Perdão. É necessário. Voltemos a história, que é fundamental.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Interlúdio

Pessoas!

Em vista da longa espera pelo Mr. El, resolvi tomar a dianteira aqui e fazer o trabalho dele. Parece que o nosso prezadíssimo amiguinho não tem tempo nem de ligar o computador, quanto mais de decidir continuar a história ou começar uma nova.

Então, vou sortear a ordem novamente e deixar que o primeiro da fila do novo sorteio decida continuar a história ou fazer uma nova.

Então a ordem aleatória escolhida foi:
  1. Fox
  2. Loba
  3. Mix
  4. MeTê
  5. El
Valeu? Alguém se opõe? Se não,

Que a Força esteja conosco!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Conto 01 - Parte 05


Ao fundo, num dos cantos do bar, um homem tocava alaúde de modo desapercebido.
Leonardo apenas ouvia enquanto Maximillian e Frei Johann conversavam. Havia conseguido dobrá-los à sua vontade e agora que estava dentro daquela antiga fraternidade, teria que conquistar a confiança de todos para permanecer no grupo e, dessa forma, adentrar os domínios do Vaticano.
Calado, ouviu Maximillian e Johann conversarem sobre os velhos tempos. Dunan contava ao Frei sobre os trabalhos feitos por sua mãe e ele, antes de se separarem, há cinco anos.
- Por muito tempo minha mãe e eu fizemos todos os trabalhos juntos. Conseguimos alguns trocados, nada muito ostensivo, mas o suficiente para podermos continuar.
- Trabalhos? - disse o Frei.
- O senhor me entendeu, Frei - disse Maximillian, com um sorriso no canto da boca. Tomou mais um gole de vinho e olhou para as mãos tortas e assimétricas de Leonardo - O que aconteceu com seus dedos?
Leonardo observou as próprias mãos e as estendeu no ar, para que todos vissem perfeitamente seus dedos quebrados e mal colados, todos cheios de calos.
- Ora, "signori" - disse Leonardo, o forte sotaque italiano enchendo espelunca com sua voz grave, não condizendo com seu corpo pequeno - Vocês já deveriam saber que em nosso meio, com esse "nostro stile di vita", nada é garantido. Especialmente quando os "bastardi" de "nostro" inimigos nos capturam no meio de batalha e você não tem nenhum "amico" para pagar pelo resgate.
- Você foi pego? - disse Frei Johann, após observar o rapaz à sua frente demoradamente - Pensei que você tivesse dito que nunca havia sido pego.
- Eu fui. Várias vezes - disse Leonardo, então pegou um terceiro copo que Dunan havia colocado na mesa e se serviu com um pouco de vinho que ainda havia na garrafa - "Posso farne a meno"?
Dunan e Frei Johann se entreolharam. O homem era esquisito, eles tinham que concordar, talvez fosse digno de confiança, eles não sabiam, mas ainda assim era estranho. Maximillian pensou que talvez os anos na sarjeta tivessem feito sua cabeça fritar. Decidiram que aquele era um bom momento de conhecerem o substituto de Giuseppe, enquanto esperavam pela chegada de Minerva e dos irmãos Domenick e Willian ali no bar Il Angolo.
- Como foi que você escapou? - disse Dunan, curioso, se debruçando sobre a mesa.
- Não escapei - disse Leonardo, após tomar um gole do vinho, saboreando-o como se fosse a primeira vez em anos que fazia aquilo - Fui solto, "signori". Entreguei a eles parte da informação que pediam e "fatto" o resto.
- "Fatto"? - disse Dunan, que entendia mal o italiano.
- Inventei, "signori". Inventei - Leonardo bebeu mais um gole do vinho e ergueu novamente uma das mãos - Então eles me soltaram satisfeitos. Não antes de me quebrarem todos os dedos das mãos, certamente. Os "figli di una puttana"!
Frei Johann fez cara feia diante do palavrão. Leonardo não se importou ou parecia não se importar com ele, bebeu o resto do vinho que estava no copo e se debruçou sobre a mesa, abaixando a voz.
- "Signori" - disse, olhou por cima dos ombros, vigiando o bar ao seu redor - se querem mesmo roubar o Vaticano, então terão que pedir ajuda a um profissional.
- Pensei que nós já fôssemos os profissionais - disse Dunan, cruzando os braços e dando uma gargalhada.
- É sério, "il mio amico troppo ignorante" - disse ele, fazendo um gesto para que Dunan abaixasse a voz. Frei Johann gargalhou alto ao ouvir a última frase, cruzou os braços também e ficou observando ao redor - Escutem com atenção. Todos nós sabemos que entrar no Vaticano não é tarefa simples, ninguém faz isso sem um bom plano e sem um conhecimento "precedente" do lugar, especialmente se esse lugar for o Vaticano. Estou pensando em chamar mais um homem para nos ajudar.
Eles ficaram em silêncio, ponderando sobre a sugestão de Leonardo. Para Dunan, que ainda desconfiava bastante dele, essa ideia só servia para colocar mais um homem conhecido de Leonardo para no final facilitar alguma armação dele. Contudo, Johann estava decidido a ouvir o que o ladrão tinha em mente, ainda que a título de curiosidade.
- Isso é impossível, Leonardo - disse Dunan, após algum tempo calado, se encostando novamente na cadeira - Já tem muita gente envolvida e não quero comprometer mais ninguém.
- Espera um pouco, Max - disse o Frei, havia uma expressão em seu rosto que era um misto de curiosidade e seriedade - Quero ouvir o que ele tem em mente. Você provavelmente deve ter um nome.
Leonardo sorriu por um momento, alegre por poder dar uma sugestão relevante que seria ouvida pelo grupo.
- Estive pensando em Lanferelle.
O som da palavra atingiu Frei Johann e Maximillian Dunan com uma onda de decepção. Leonardo fizera tanto mistério para dar um nome que aparecia apenas em histórias. O sorriso que antes estivera no rosto de Johann desapareceu instantaneamente.
- Lanferelle é uma lenda, um mito, uma história que contam para assustar os grandes mercadores - disse Johann, havia um tom de raiva na voz dele.
- Ouvi dizer que ele morreu - disse Dunan, desconsiderando os comentários raivosos do Frei.
- Não morreu.
- Claro que não - disse o Frei, que encostou-se na cadeira e coçou a testa - Ninguém pode matar aquilo que nunca existiu.
- Mas Lanferelle é "una leggenda vivente", padre - disse Leonardo - Você só acredita que ele não existe porque ele quer que você acredite nisso. Ele é o único que pode nos dar certeza de entrar no Vaticano. Confie em mim, eu já estive com ele.
Frei Johann apoiou sobre a mesa e apontou o dedo para o rosto de Leonardo.
- Isso - disse ele, bem devagar - É mentira! E não sou padre. E essa - olhou para Dunan - É uma besteira que supera a sua de alguns dias atrás.
Leonardo abriu a boca para falar, mas foi interrompido quando Minerva adentrava a porta da Il Angolo, tocando o sino pendurado ao lado dela.
Ao fundo, num dos cantos do bar, um homem tocava alaúde de modo desapercebido.

Addendum: Elba, como você é o próximo na lista, fica a seu critério terminar a história e começar uma nova ou tocar essa em frente pra ver até onde ela vai.

domingo, 11 de julho de 2010

Conto 01 - Parte 04

A esta altura da narrativa, pareceu-me conveniente me apresentar. Meu nome é Manius, o Barão das Colchas. Passo minha vida a buscar e contar histórias. Desnescesário seria descrever-lhes minha aparência, de fato, prefiro assim.
Assim como os olhos atentos e cuidadosos que descrevi a pouco, também estive a observar os
nossos protagonistas por alguns momentos; não todos, confesso. Algumas partes são preenchidas
por minha imaginação.Não se preocupem, tenho certeza que a história se aproximou
bastante do que lhes conto. Se nem os padres e militares se importaram com a veracidade dos
detalhes, por que motivo deveriam vocês? Só lhes alerto para que não acreditem eu tudo que
escutam por aí.
Peço que me perdoem o breve corte na narrativa, podemos prosseguir agora.

Leonardo. Já tive a oportunidade de tomar bons vinhos e apreciar lindas mulheres em sua
companhia; que belas lembranças! Já outras vezes sua presença não me foi muito agradável.
A questão é que o larápio por algum motivo se interessou pelo jovem Max e sua atenção fora
recompensada. O bandido sempre teve um talento especial para encontrar as pessoas certas.
Seus dedos finos e tortos - que de alguma forma eram também ágeis e o serviam muito bem como instrumentosprecisos para seus malditos truques e ... o que? eu havia dito que eram grossos?Perdoem-me, provavelmente me confundi pois os dedos da mão esquerda eram grotescamente largos enquanto os outros eram finos e tortos. Bem, permita-me continuar, sim?

Leonardo era ótimo em apresentações embora não possamos dizer o mesmo das despedidas. Quando pôde finalmente entender o que se passava com aquelas pessoas, apresentou-se com cautela e alertou-lhes que se permitiam ser espionados daquela forma, provavelmente também não teriam os - e aqui estou sendo bastante gentil com as palavras - "dons" de um convidado indesejado que seriam tão importantes para esse tipo de "trabalho".

Tão difícil quanto enfrentar um inimigo desconhecido é enfrentar aquele que bate no peito
com orgulho,grita e mostra todas as cartas da mão de uma só vez.Impossível perceber se a imprudencia é apenas tolice descarada ou se esconde algo mais perigoso ainda. Impossível enfrentar alguém que mostre a mão e revela ter as melhores cartas do jogo. Pode-se aceitar os termos, criar laços, esperar, não dar as costas manter-se atento ou sacar as armas.Acredito que nossos protagonistas escolheram a melhor opção.

Possuiam maturidade,energia,determinação,conhecimento e agora também a habilidade, mas ainda lhes faltava a força - nem sempre nescessária em campo porém indispesável na reserva.
Não se pode ir à guerra sem força; sem alguém para lhe proteger quando tudo der errado. Os
irmãos Domenick e Willian pareciam perfeitos para isso. Antigos conhecidos de Minerva e
Johann, que conheceram os pais dos garotos. Eram independentes e bons combatentes desde
jovens e conseguiram sobreviver com facilidade sem a - já previamente oferecida - ajuda de
Minerva após a morte de seus pais. Os laços de amizade se mantiveram no entanto e puderam ser facilmente localizados. Ambos eram bem parecidos; jovens, magros, atléticos, relativamente altos, cabelos castanhos, lisos e curtos. Usavam trajes simples de pano e couro e eram habilidosos, respectivamente Domenick e Willian, no uso do machado e do arco e flecha.

Eram antigos conhecidos, confiavam uns nos outros e estavam interessados em trabalhar mais
uma vez juntos. O plano era realista e se fosse executado com precisão as chances de
sucesso eram altas, como sempre foram os planos elaborados por Frei Johann e Minerva, agora
aliados também com o esperto Maximilian Dunan. Dúvidas ainda recaíam sobre Leonardo mas era um risco que deveria ser enfrentado. O falecido companheiro e amigo Giuseppe fazia mais falta agora do que nunca e sua substituição por um desconhecido era inevitável.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Conto 01 - Parte 03

Por um instante, Max achou que conseguira causar no homem a impressão desejada. Subitamente, porém, as feições do frade assumiram um ar de extrema ironia, os olhos brilhando do modo zombeteiro. Enfim, não se conteve e gargalhou ruidosamente.
- Essa foi a maior besteira que ouvi nos últimos anos! E olha que sou o tipo de homem que se encontra o tempo todo cercado por tolos! – disse, engasgado em meio ao riso.
Max se tranqüilizou um pouco. Não era a reação desejada, mas nem de longe ela era tão ofensiva.
- Pare com isso, Frei Johann. Não percamos mais tempo. Foi uma pessoa que você conhece bem quem me mandou aqui. – atalhou Max, incisivo.
- E quem seria, meu jovem? Não me lembro de nenhum conspiracionista entre meus velhos amigos.
- Minha mãe. Minerva.
Os olhos do homem se avivaram por um instante, tal como chamas no inverno. Ele parecia perscrutar, com intensa nostalgia, a paisagem de janelas passadas. Após um curto devaneio, deu por si e encarou o jovem, com um suspiro.
- Achei que ela não estava mais entre nós.
- Pois está sim. E está reunindo seus velhos companheiros para seguirem nessa empreitada.
- Entendo. Resolveram aguardar para quando o Papa estivesse enfermo. Mas venha, buscarei meu casaco e conversaremos em outro lugar, na companhia de um bom vinho.
- Mas os ouvidos de Deus não alcançam todos os sussurros? – disse Max, esboçando um leve sorriso.
- De fato. Mas o que me afronta são os ouvidos dos homens desse lugar. – disse o frade, já de costas e rumando para seus aposentos.
Instantes depois ele retornou e os dois homens saíram. Foram serpenteando pelas ruelas estreitas e apinhadas de Paris, disputando cada milímetro de chão com os passantes. Ambos caminhavam em silêncio, o ar grave contrastando com a euforia de enfim executar o plano há tanto tempo engendrado.
Entraram numa velha espelunca, repleta de toda sorte de homens, além de mulheres sem sorte. O lugar emanava um forte cheiro de poeira e o chão era bastante grudento, herança talvez de bebedeiras passadas. Johann pediu dois copos de vinho e se sentaram sobre caixas de madeira em um canto mais vazio do lugar. Como ambos vestiam pouco mais que andrajos, não foi o porte de altivo de cada um que atraiu alguma atenção.
- Antes de qualquer coisa, - disse o frade – você sabe bem onde está se metendo? Tem idéia do que é tentar entrar no Vaticano?
- É claro que sei! – respondeu Max, com palpável determinação. – Não me arriscaria procurando sua ajuda dessa maneira se não soubesse bem onde estou me metendo!
- Pois bem! Deus é testemunha de que você está aqui por sua própria vontade! Deus oferece aos homens sempre dois caminhos...
- E eu já escolhi o meu! – cortou Max.
- Quanta impaciência meu jovem. Na sua idade eu também era assim. E sua mãe também. Isso quase custou nossos pescoços. Me conte primeiro o que aconteceu com ela naquela manhã em Marselha e o que foi feito dela nas duas últimas décadas.
O jovem iniciou sua narrativa, cada palavra acompanhada de uma visível alteração na expressão do frade, que ora ou outra interrompia a história com perguntas.
Mas o que ambos não sabiam é que um par de olhos verdes os observava com cuidado. Não os olhos convidativos de uma moça. Eram olhos de um homem de meia idade, o rosto marcado por rugas e o corpo, por cicatrizes. Seus dedos grossos fiavam o bigode opulento enquanto ele perguntava sobre o que ambos tanto conversavam. Ele havia seguido o mais jovem desde cedo, quando este saíra de casa.
Seu nome era Leonardo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Conto 01 - Parte 02

Maximilian Dunan andava por uma biblioteca enorme e escura, não se lembrava de como viera parar ali, mas sabia que procurava por um pergaminho que mudaria todo processo de desenvolvimento religioso cristão. As estantes apinhadas de livros pareciam zombar de seu objetivo, murmuravam palavras sombrias e riam malévolas, pareciam se divertir com seu desespero. De repente ele se deu conta que podia entender o que elas diziam e a verdade o atingiu como uma flecha:
- Ele não está aqui...
Max acordou assustado, sua cama estava encharcada de suor. Pela janela ele viu que o dia nasceria em breve, e não adiantava voltar a dormir. Levantou-se e olhou em volta, a mortiça luz da aurora mostrava um quarto pequeno e simples, com uma cama de molas enferrujadas e um colchão amarelado, um pequeno fogão, que era usado como aquecedor nos dias frios, e uma mesa. Mas o que mais chamava atenção no local era a quantidade de livros, eles ocupavam quase todo o quarto, deixando apenas o espaço mínimo para que ele se movimentasse.
Após lavar o rosto Max olhou para o espelho, o reflexo era de um jovem pálido, cabelos atrapalhados e um par de óculos baratos, mas os olhos eram sérios e inteligentes, mostravam que apesar da juventude Max tinha um coração valente, e que ainda não mostrara toda sua capacidade.
O desjejum foi modesto como sempre, mas não importava, hoje Max daria o primeiro passo para a realização de seu plano e sua mente estava totalmente concentrada nisso. Após se assegurar que a porta do quarto estava trancada ele desceu os vários lances de escadas que levavam ao pequeno hall do prédio, na rua Max olhou em volta, a paisagem era do típico subúrbio pobre parisiense com milhares de pessoas ocupadas com seus frívolos afazeres diários.
Max sabia onde ir, não fora fácil, mas ele conseguira agendar um pequeno encontro com alguém que poderia ser fundamental para a missão...
Após algum tempo de caminhada ele finalmente chegou ao convento dos cordeliers de Paris. Um pequeno frade careca o recebeu na entrada:
- pois não ?
Max percebeu que deveria ser cuidadoso nas palavras...
- bom dia irmão, venho sob indicação do conde d´Órleans, preciso falar com Frei Johann, minha visita foi autorizada na semana passada.
O frade parecia ao mesmo tempo surpreso e intrigado, max percebeu que aquele nome não era dito frequentemente por ali.
- hum, por aqui. disse o frade meio a contragosto.
Max foi levado pelo corredor até os jardins centrais do convento, e através destes até uma parte isolada onde um homem trabalhava sozinho em uma pequena horta.
o frade parou a uma distancia grande e apontou para o homem, parecia estar receoso de chegar mais perto, como se temesse uma doença contagiosa. Max foi de encontro ao homem e o frade se afastou depressa.
Frei Johann era alto e magro, seus cabelos curtos eram loiros e sua postura era de alguém que não evitava confrontos, apesar de estar debruçado sobre beterrabas.
- hum, percebo que você não é predileto entre os irmãos, disse max.
- pobres coitados, tem medo que minhas idéias sejam contagiosas, preferem acreditar no que os superiores dizem, desde que seja mantido o estoque de cerveja... disse o frei sem se virar e continuando a arrancar ervas daninhas.
- Meu nome é maximiliam dunan, gostaria de lhe falar por algum momento, disse max um pouco incomodado em falar com um homem de costas...
-Poupe seu tempo garoto, já deixei claro que não vou me mudar daqui, e não é um pequeno e pálido acolyte que vai me convencer...
Max se perguntou como ele sabia sua aparência.
-Desculpe-me frei, mas não sou um coroinha, preciso de sua ajuda em uma missão, acredito que é de seu total interesse e ...
-Não estou interessado em missões ! disse o frei abruptamente, ainda sem se virar e ceifando com vigor uma erva particularmente grande.
Max perdeu a paciência, já duvidava que aquele frei era quem procurava, devia ser direto ou não teria sucesso.
-Quero que você me ajude a roubar um pergaminho secreto escondido no vaticano, disse temendo uma reação violenta.
O frei parou e se apoiou sobre as duas mãos olhando para max, parecia não acreditar no que acabara de ouvir...
Max olhou para o homem agachado a sua frente, e percebeu que sob as alguma rugas e um olhar penetrante, havia um sorriso...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Conto 01 - Prólogo

- Eles estão vindo!

- Só mais um pouco, "Io" estou quase abrindo!
- Seja rápido com isso!
- Non trabalho sobre pressão, "senhore"...
- É porque você não está vendo o tamanho do machado do rapaz da segunda fileira...
- Calado Domenick! Pare de resmungar e venha me ajudar a segurar o portão. Frei Johann, como está Minerva?
- Desacordada ainda, mas o sangramento estancou...
- Tudo bem... Willian, guarde suas flechas para quando estivermos em retirada e ajude a carregá-la.
- Consegui!! Está aberta!
- VAMOS TODOS!!!!!
O empoeirado salão de obras raras tinha um cheiro horrível, mas eles não ficariam ali por muito tempo. Sabiam onde estava o livro que queriam. E na estante dos mais sagrados e antigos o vernáculo aramaico, a princípio ininteligível, compunha as folhas amareladas e gastas pelo passar dos séculos. Estava separado dos demais, só poderia ser ele. A história oculta, que não havia sido contada, a verdade que ninguém jamais ousou imaginar...
- Frei, pegue o pergaminho, rápido! Agora o senhor é que irá nos conduzir...
- Certo. Tem uma passagem atrás daquela estante que dá numa gruta. Poucos sabem que ela existe. A gruta desemboca num túnel. Sairemos alguns metros ao sul da Praça.
- Excelente! Leonardo, consegue trancar a porta novamente, e rápido?
- "Senhore", está falando com o melhor de "tutta l'Italia"!
- Perfeito. Vamos nos mexer para sairmos o mais rápido possível daqui, sinto os fantasmas desse lugar cravando seus olhos agourentos em mim o tempo todo. Vamos!
A Guarda Suíça adentrou como um trovão na sala vazia e silenciosa.
- Bruxaria! Filhos do demônio! Vamos homens, cerquem o lugar, não deixem que escapem esses desgraçados!
- Você não os pegou...
- Oh! Reverendíssimo Cardeal Werner, não se preocupe senhor, é apenas uma questão de tempo...
- Espero que seja mesmo capitão... - olhando para a mesa central vazia - espero que seja mesmo...

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A noite ia longa e a chuva ficara mais forte. Numa pequena e estreita rua, cercada pelos muros das belas casas romanas, cedeu uma pedra grande que calçava o chão e de lá, um a um, vultos escuros saltavam para fora da terra úmida.
Cuidadosos para não serem notados, asseguraram que não havia ninguém perambulando pelas vias de Roma e desapareceram por entre as esquinas das avenidas, banhadas de profunda escuridão e de um frio cortante, provocado pela chuva gelada que marcava o início do outono...